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3 milhões de jogadores compulsivos.

19/04/2004

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A compulsão por jogos é tão grave quanto o vício por entorpecentes. O montante de dinheiro gasto em apostas é alto, mas incalculável. Estimativas indicam que 3 milhões de brasileiros são jogadores compulsivos, 2% da população. Nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Austrália, o percentual dos viciados oscila entre 1% e 4%, superando o total de esquizofrênicos e maníaco-depressivos. Desde o fechamento das casas de jogos, o número de atendimentos a jogadores com o diagnóstico aumentou. Somente no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo o incremento foi de 50%.

Embora sejam percebidas em Porto Alegre, as crises de abstinência, normalmente acompanhadas de depressão e taquicardia, não são contabilizadas pelos operadores da saúde. A coordenadora do Ambulatório de Transtornos da Ansiedade do Hospital São Lucas, Lourdes Maraschin Haggstr’m, diz que o jogo compulsivo passou a ser visto como problema médico e social desde 1995. ‘Ultimamente, aumentou o número de mulheres que passam para o grupo patológico.’ Segundo ela, o diagnóstico está associado à depressão, transtornos de personalidade e dependência de álcool e de drogas.

A médica Irma Rossa, da Equipe de Dependentes Químicos do Hospital Nossa Senhora da Conceição, adverte que muitos desconhecem a doença e que raramente um compulsivo busca apoio psicológico porque a negação é o principal obstáculo para procurar tratamento. ‘Há casos de jogadores que são compulsivos também na hora de comer, de beber, de comprar e de manter relações sexuais’.

Entidade leva apoio aos dependentes.
Para muitos jogadores compulsivos, o fechamento dos bingos representou uma perda irreparável. No entanto, há quem tenha vinculado a decisão ao fim das situações de risco e de vulnerabilidade. ‘Aparentemente, estão extintos os estímulos para o jogo’, assinala um dos coordenadores do Jogadores Anônimos (JA), de Porto Alegre. Segundo ele, embora entre os quase 80 integrantes do JA também existam viciados em carteados, loterias oficiais e outras modalidades de jogos lícitos e ilícitos, 90% acusam dependência de bingos. ‘Com o encerramento das atividades, cerca de 40 pessoas deixaram de comparecer às reuniões com freqüência’, comenta. Ele atribui esse comportamento à inexistência da sedução. Os homens começam a jogar mais cedo, mas o desenvolvimento da doença nas mulheres é quatro vezes mais rápido. ‘Do prazer inicial, o jogo passa a ser necessário na vida do que se tornou dependente’, justifica. No JA, os compulsivos são induzidos a lutar diariamente para ficar longe das apostas. ‘É preciso primeiro reconhecer que nós jogadores somos portadores de uma doença grave’, salienta. A coordenadora de Políticas de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, Marta Marcantonio, assegura que não existem estatísticas sobre a quantidade e o perfil de jogadores patológicos. Segundo ela, os levantamentos são prejudicados justamente porque os dependentes não enxergam o problema como doença. ‘Não recorrem às sete equipes de saúde mental que atuam na cidade, fato que dificulta o mapeamento dos casos’, justifica. A maioria dos que buscam apoio alega ser portadora de depressão. Os casos mais graves, conforme a corrdenadora, são acolhidos no Pronto-Atendimento de Saúde Mental, que funciona nas dependências do Centro de Saúde Vila dos Comerciários. Os demais são transferidos para unidades básicas de saúde.

Atitudes que denunciam a compulsão:
– Busca contínua de artimanhas que possibilitem a obtenção de dinheiro para custear os jogos.
– Necessidade de apostar quantidades cada vez maiores de recursos.
– Insucessos repetidos para controlar, diminuir ou parar de jogar.
– Inquietação ou irritabilidade quando tenta deixar o vício do jogo.
– Jogar como forma de escapar de problemas.
– Depois de perder dinheiro jogando, volta ao jogo na tentativa de recuperar o que perdeu.
– Mentir para esconder a extensão de seu envolvimento com o jogo.
– Cometer ilícitos para financiar as apostas.
– Colocar em risco ou perder relacionamento, emprego e oportunidades em função do jogo.

– Depender do dinheiro dos outro para pagar dívidas contraídas em jogos.

Correio do Povo (RS) – Luciamem Winck