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A Copa do Mundo das apostas

11/06/2018

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Samy Dana (*)
Semana de Copa do Mundo geralmente começa com o Brasil entre os favoritos para ficar com o título. Esta não é diferente. Nos principais sites de apostas, a seleção de Tite pagará três libras para cada libra apostada caso seja campeã. Uma libra esterlina esteve cotada na semana passada a R$ 5, o que quer dizer que cada aposta de R$ 5 vai render um prêmio de R$ 15. A posição do Brasil era a mesma nas apostas em 2014, na semana que antecedeu a Copa do Mundo.
O apostador faz uma espécie de investimento — com um dinheiro que pode ser perdido, claro — com base nas informações que tentam antecipar como será o Mundial. Pensando nisso, somos capazes de enxergar alguns “fundamentos” de mercado? Tite foi capaz de fazer o Brasil voltar a jogar bem, e os últimos resultados, como a vitória de 1 a 0 sobre a Alemanha em março, afastaram as desconfianças, justificando a seleção brasileira como uma aposta sólida.
Além de demonstrar que o futebol brasileiro, se saiu um pouco arranhado do 7 a 1, ainda tem prestígio, as apostas tentam definir quem tem mais chance dessa vez. Como comparação, se o Panamá e a Arábia Saudita surpreenderem todo mundo e ganharem a Copa do Mundo, cada R$ 5 apostados em uma dessas seleções vai pagar R$ 5 mil. O Irã dará retorno de R$ 2.500 para cada R$ 5, enquanto a Bélgica, única equipe entre as mais cotadas que nunca foi campeã, dará R$ 55 para cada R$ 5.
Quer dizer que estas são as seleções que vão brilhar mais? Vamos olhar para a Copa de 2014.
Quem defende as apostas pode achar que tem razão. Afinal, entre os três favoritos estavam de fato três das quatro seleções que chegaram às semifinais — a quarta era a Holanda, a sétima mais cotada. Além disso, havia um tabu: até a Alemanha levantar a taça no Maracanã, nunca uma seleção da Europa havia sido campeã fora do continente.
Porém há erros sérios: a Espanha e a Itália caíram na primeira fase, e ninguém adivinhou que a surpreendente Costa Rica estaria entre as oito primeiras colocadas. As apostas só acertaram uma colocação, a da Argentina.
As apostas são apenas uma maneira de tentar prever o campeão. Outra mais evidente é olhar a qualidade dos elencos, refletida em um critério: o valor de mercado dos jogadores. Em termos de performance, segundo a Pluri Consultoria, o ápice de um jogador é aos 27 anos e 4 meses, mas o valor máximo de mercado se dá aos 22 anos e 9 meses. Entram nessa conta os fatores de campo, como idade, qualidade, posição e aspectos táticos do jogador, mas também extracampo: os campeonatos de que participa, a experiência internacional, os retornos de marketing e a convocação para a seleção nacional.
Dentro desses critérios, o jogador mais caro do mundo é Lionel Messi, com um valor de 205 milhões de euros (R$ 984 milhões). O português Cristiano Ronaldo vale 203 milhões de euros (R$ 974 milhões), enquanto Neymar, o terceiro mais caro do mundo, atualmente alcança 197 milhões de euros (R$ 945 milhões). O curioso é que o PSG gastou 222 milhões de euros (R$ 1,065 bilhão) na sua contratação. E ainda há diferenças entre os valores dentro e fora do campo.
Todos valem mais fora do que em campo devido aos contratos de marketing e outras ações. Como comparação, o uruguaio Luis Suárez, do Barcelona, apresenta relação inversa. Apesar de goleador, o atacante foi acusado de racismo quando atuava no Manchester United e foi expulso por dar uma mordida no zagueiro italiano Chiellini durante a Copa passada. Em campo, ele continua justificando os 46 milhões de euros (R$ 220 milhões), mas, fora, seu valor é de “apenas” 23 milhões de euros (R$ 110 milhões).
Somados esses critérios, pelo menos em tese, as equipes mais caras são aquelas com jogadores mais completos e versáteis, com um comportamento que justifique o investimento de clubes e patrocinadores. A França deveria, então, ser considerada a favorita, com um elenco de 1,08 bilhão de euros (R$ 5,18 bilhões). A Espanha vem em segundo, com 1,04 bilhão de euros (R$ 4,99 bilhões). Já a seleção brasileira é a terceira mais valorizada, com 951 milhões de euros (R$ 4,56 bilhões).
Os números são úteis para descobrirmos tendências. Mas isso é a economia do futebol. Como todos nós, fãs do esporte, sabemos, basta a bola rolar e as coisas se decidem no campo.
(*) Samy Dana é economista, professor da FGV e veiculou o artigo acima no O Globo.