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A sorte e a crise

08/10/2015

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O alarde que se faz com relação à precariedade da situação econômica brasileira é algo que vem inquietando toda a população.
Em vez de onerar os já escorchantes impostos pagos pelos exauridos contribuintes, por que não reabrir os cassinos no Brasil como uma nova fonte de renda para o governo?
Forças ocultas impedem que o Brasil siga políticas avançadas que regulamentam a jogatina, como acontece na maioria dos países civilizados.
Até porque, quanto maior a crise, mais as pessoas jogam, basta ver as imensas filas que se formam nas casas lotéricas às vésperas dos sorteios oficiais promovidos pelo governo estabelecido.
Isso sem falar nas corridas de cavalos e no jogo do bicho, este último hipocritamente mantido por trás dos panos.
Para onde vai todo esse dinheiro que nem sempre é claramente contabilizado?
E não me venham com o argumento do achaque à pobreza, já que a grande maioria nas filas lotéricas é de gente humilde, numa tentativa desesperada de saída da pobreza e da miséria.
Brasileiros abastados viajam sistematicamente nos fins de semana para países vizinhos como Chile, Argentina e Uruguai, deixando por lá vultosas quantias nos cassinos, que poderiam movimentar bem mais a nossa economia.
Os bingos e os cassinos continuam funcionando ilegalmente em todo o país, a pleno vapor. Vez por outra, um deles, menos acobertado pelo sistema, é fechado, ao passo que milhares de outros continuam abertos para enriquecimento de seus donos.
Por que não tachar com altos impostos, estes sim válidos, toda a imensa jogatina do país?
Além da enorme arrecadação para o governo, seriam criados milhões de empregos nessa terra já ameaçada pela catástrofe do desemprego.
Não vemos autoridades comovidas pelo aumento absurdo do número de viciados em drogas legais e ilegais.  Por que então toda essa hipocrisia com relação aos chamados jogos de azar?
Parafraseando o poeta, “Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim…”. Precisamos ver quem paga para estarmos sempre tão atrasados.
No momento em que até o Papa está revendo certos conceitos arcaicos que regem a religião católica, por que o Brasil não pode rever políticas equivocadas, impeditivas, inclusive, do incremento do turismo internacional?
Joga quem quer e quem pode e os países que entenderam isso (a grande maioria), estão colhendo os frutos de sua determinação.
Todo o vício tem de ser tratado, e não, coibido.
Afinal, se a experiência da legalização do jogo funciona bem em todos os outros países, por que só aqui, na terra da hipocrisia, é tão temida?
(*) Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT e veiculou o artigo acima no jornal  O Documento/Opinião – MT.