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Análise do poder do jogo deve ser mais profunda

09/07/2002

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O poder que o jogo exerce nos consumidores, potencializado pela publicidade, deve ser analisado de forma mais profunda pelo Direito. É o que propõe a advogada Maria Celeste Cereser Pezzella, que é professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Unisinos, na tese de doutorado que defenderá dia 4 de julho, em Curitiba.
Intitulada O Poder do Jogo na Publicidade e a Eficácia Jurídica na Defesa do Consumidor – Um estudo do Caso, a pesquisa indica que a análise de processos envolvendo o tema deve receber uma atenção mais detalhada, pois envolve, além do fato em si, o comprometimento psicológico do consumidor. Segundo a advogada, os objetivos da publicidade seguem os mesmos moldes do relacionamento, que passam pela conquista, sedução e cultivo. Ela considera esse poder perigoso no momento em que campanhas envolvem um grande número de pessoas, gerando uma expectativa, já que alguns não conseguem dosar a medida da ambição. Isso pode ser representado por consumidores que compram o carro do ano ou outros objetos de desejo, que são “vendidos” como fontes de sucesso, realização e poder.
Para Maria Celeste, isso pode ser explicado pela Psicologia, que analisa a compulsão pelo consumo como uma forma de suprir carências. “No inconsciente, o jogo faz com que ela pense que isso corrige suas tristezas”, disse. Por outro lado, o jogo tem o poder de motivar e potencializar quando não se busca o ganho fácil. “Quando ele resgata a alegria da criança, o lúdico e a brincadeira, é positivo”, analisa.Verdade
A pesquisa, que iniciou em agosto de 1999, também estuda a busca da verdade, que pode não ser a mesma na hora do julgamento, porque envolve o consciente e o inconsciente. “O contrário da verdade é o esquecimento e não a mentira, porque a pessoa esquece o que quer esquecer”, explica, acrescentando que “a defesa da testemunha é dizer que não lembra, não por má-fé, mas por um processo de harmonização da mente”.
Esse raciocínio, diz Maria Celeste, pode ser feito com uma analogia entre a publicidade e o nazismo, quando milhares de pessoas foram envolvidas em uma idéia que um povo precisava ser excluído para o desenvolvimento de uma raça. Por isso, defende a advogada, o Direito precisa olhar de forma diferente para esses casos, porque não se trata de um julgamento só de pessoas saudáveis, mas que podem ser consideradas doentes, “pois o consumidor passa a ser o ator do jogo”, finaliza.
Rosângela Oliveira