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Bancas de jogo do bicho se alastram pela Esplanada dos Ministérios

15/01/2018

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ATENDIMENTO – Seu Brasil ao lado do STF. Ele registra apostas e emite recibo na máquina portátil (Foto: Diego Campos, Sérgio Dutti/ÉPOCA)

A menos de 40 metros do Supremo Tribunal Federal, seu Brasil estende o braço direito para cumprimentar três clientes que chegam a sua banquinha, instalada no estacionamento da própria Corte. Brasil acabara de retornar da pausa do almoço, que não costuma durar nem meia hora porque, com quase 60 anos de idade e décadas de experiência no ramo, ele não gosta de deixar cliente esperando. Não é um negócio comum. Trata-se de uma banca de jogo do bicho – contravenção com pena máxima de um ano e aplicação de multa. Não apenas os bicheiros, mas também os apostadores podem ser responsabilizados com aplicação de multa. Apesar disso, a banca tem funcionado de segunda a sexta-feira, como se fosse um comércio qualquer.

O negócio é rentável. Foram-se apenas cinco horas de trabalho, mas seu Brasil já ostenta nas mãos dois volumosos maços de dinheiro, com notas de R$ 20 a R$ 100. Os três primeiros clientes da tarde usavam crachás do Supremo e deixaram, cada um, mais R$ 20 no negócio de seu Brasil. A movimentação de funcionários da Câmara e do Senado também é intensa no quiosque, que funciona das 8 às 18 horas. Dois banquinhos de plástico ficam posicionados de frente para o atendente, enquanto uma pequena fila se forma logo pela manhã.

Nas redondezas do Congresso e da Esplanada dos Ministérios, um total de dez bancas iguais à de seu Brasil atua para atender a clientela dos Três Poderes. “Aqui o negócio é mais organizado que as loterias da Caixa (Econômica Federal). O sujeito recebe o dinheiro na hora, nem precisa apresentar o documento de identidade”, afirma seu Brasil a um “cliente” do Supremo.

Cada banca chega a contar com o trabalho de até cinco pessoas; de atendente a recolhedor de dinheiro, além de outras funções que dão suporte ao negócio irregular. Mas os apostadores nem mesmo precisam ir até as bancas. Os bicheiros têm acesso livre aos gabinetes da Câmara e do Senado: passam o dia com os adesivos que dão acesso ao Congresso colados no peito. Seu Brasil não faz questão de retirar o adesivo nem quando está atendendo na banquinha. Há também dois pontos de jogo nos acessos à Câmara e ao Senado. “Esses são para atender mais o pessoal do gabinete, que não quer andar até muito longe para ter de fazer um jogo”, explica um funcionário que atua na área da segurança do Congresso e há mais de um ano observa a atividade do bicho nos entornos.

Pelo menos duas vezes ao dia, geralmente no início da manhã e no final da tarde, o dono de uma banquinha que funciona nas proximidades do anexo II da Câmara percorre as galerias das duas Casas para recolher o dinheiro do jogo. Os demais bicheiros, sempre com discrição, costumam cumprir o mesmo ritual. Grupos secretos nas redes sociais são criados pelos funcionários para compartilhar os resultados dos jogos, que também podem ser conferidos diariamente em sites obscuros, como o denominado Deu no Poste. Mesmo com chuva, o jogo segue firme. No último dia 2, no estacionamento do Supremo, a comercialização dos bilhetes era feita de dentro de um carro Fiat Uno vermelho, por causa do temporal. No dia seguinte, com o sol voltando a aparecer no céu de Brasília, a rotina da banquinha do Supremo voltou ao normal, com clientes aguardando sentados nos banquinhos espalhados na grama.

Há projetos engavetados na Câmara e no Senado para regulamentar os jogos de azar. Em outubro de 2017, foi criada uma frente parlamentar para isso. Liderando essa proposta de legalização está o centrão, composto de partidos como PP, PTB e PRB. Os deputados a favor à legalização argumentam que os jogos vão criar empregos e renda, além de trazer mais investimentos para o Brasil e aumentar, em tempos de crise, a arrecadação nos estados e municípios. Segundo a assessoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI), autor de um projeto sobre o jogo, o tema deverá entrar na pauta da Comissão de Constituição e Justiça do Senado no início deste ano. (Revista Época Notícias – Patrik Camporez)