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BNL/2012: “O jogo ilegal vai migrar para estruturas ‘verdadeiramente’ criminosas e mafiosas”

15/04/2019

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Os lucros do jogo vão direto para a caixa do Escritório do Crime – a milícia fica com 80% do arrecadado, o dono do estabelecimento com 20%

Em outubro de 2012, o BNL fez o alerta: o jogo ilegal, considerado contravenção penal, vai migrar para estruturas ‘verdadeiramente’ criminosas e mafiosas.

O tema foi abordado durante a divulgação do resultado da pesquisa IBOPE/BNL sobre a criminalização dos jogos proposto na reforma do novo Código Penal. Naquela época, o IBOPE ouviu 805 pessoas na Capital, Baixada Fluminense, Niterói e São Gonçalo. O resultado comprovou que a maioria da população do Grande Rio defende o jogo e é contra a criminalização, já que 58% dos entrevistados são contra tornar o Jogo do Bicho crime, 33% são favoráveis e 9% não sabem/não respondem.

A criminalização do jogo não revogou a lei da oferta e da procura, além de não acabar com uma atividade clandestina que movimenta anualmente mais de R$ 18 bilhões. O máximo que estão conseguindo é empurrar a operação do jogo ilegal para estruturas verdadeiramente criminosas, como as milícias, facções prisionais, máfias e cartéis internacionais, principalmente pelo fato deste setor movimentar muitos recursos, comentei naquela época.

A pesquisa do IBOPE registrava o sentimento manifestado pelo signatário desta. Na opinião de 42% dos entrevistados o jogo passaria a ser controlado pelos traficantes/milícia, enquanto 29% acham que o jogo acabaria, 3% afirmam que seria operado por policiais, 2% que seria operado por ‘políticos/ políticos corruptos/governo corrupto’, 1% por policiais e 22% não sabem/não respondem.

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‘Rio: Milícia cobra por “proteção”, explora caça-níqueis e empresta dinheiro’

Reportagem de Sérgio Ramalho para o Portal UOL revela a rotina dos moradores de Rio das Pedras, comunidade da zona oeste do Rio erguida às margens da Lagoa da Tijuca, que cresceu desordenada e verticalmente no vácuo do poder público. À sombra do Estado, a região viu brotar o embrião da milícia mais poderosa em atividade no Rio de Janeiro: o Escritório do Crime.

O grupo paramilitar chefiado pelo ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano da Nóbrega transformou Rio das Pedras na capital de seu estado paralelo.

Lá, a menos de dez minutos da Barra da Tijuca, a informalidade e a ausência de políticas públicas serviram de alicerce para a expansão da organização criminosa que dita as regras e exige de moradores e comerciantes o pagamento de taxas de “proteção”, ágio na venda de botijões de gás, garrafões de água mineral, centrais de sinal clandestino de TV, grilagem de terras, comercialização de lotes e imóveis, além da exploração de máquinas de caça-níqueis, espalhadas no comércio por toda a comunidade.

Em Rio das Pedras não é difícil acabar preso à rede de influência dos milicianos. Os valores variam de acordo com os lucros do negócio.

O dinheiro é recolhido por jovens em motos, os “frentes”. Eles repassam os valores a outros integrantes da estrutura criminosa. É tudo segmentado: quem recolhe dinheiro do comércio não se mete na cobrança de taxa aos donos de veículos usados no transporte de passageiros, nem na coleta do dinheiro das máquinas de caça-níqueis. Os lucros do jogo vão direto para a caixa do Escritório do Crime – a milícia fica com 80% do arrecadado, o dono do estabelecimento com 20%.