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Em busca de uma chance

17/01/2018

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Confesso que uma profunda tristeza me percorre ao tomar consciência do atraso do Brasil na capacidade de aproveitar a globalização

Ricardo Felizzola*

A Computer & Electronic Show (CES), em Las Vegas, foi realizada na semana passada. Entre drones, carros elétricos sem motorista e inúmeras inovações, chamou atenção de quem compareceu ao evento o ambiente que a cidade proporciona.

A pé, percorrendo circuitos entre hotéis espetaculares construídos para entreter da melhor forma possível, hordas de visitantes acessam as novidades tendo a possibilidade também de frequentar os melhores shows, as melhores propostas temáticas (temos ali, por exemplo, Paris, Veneza, a Roma antiga, castelos da Távola Redonda, o mundo do Circo, entre outras), além de restaurantes de excelência mundial e outros pontos de lazer, como danceterias, clubes de esporte e bares diversos. Sem falar ainda dos imensos centros comerciais contendo as melhores lojas do mundo num frenesi por onde, em 2016, 42 milhões de pessoas se deslocaram como turistas (quase um quarto da população do Brasil).

Em cada hotel há a estrutura de um cassino num projeto de cidade feito para encontrar uma solução de negócio para o meio do deserto de Nevada. Milhares de empregos gerados. Hoje, o nada transformado em riqueza abundante. Produto da cultura empreendedora de americanos como nós, e isto é o incrível, por que não conseguimos algo igual? Temos outra cultura: a do isolamento que provoca a ignorância.

Confesso que uma profunda tristeza me percorre ao tomar consciência do atraso do Brasil na capacidade de aproveitar a globalização e de construir algo similar a Vegas. Volto ao livro de Caldeira que conta como D. Pedro I vendeu o Brasil, que considerava propriedade de sua família, num momento em que somente 1% da população era alfabetizada, recebendo os louros de herói da Independência.

Na época, os Estados Unidos já tinham 50% de sua população alfabetizada. Lembro nossa luta contra o capitalismo com a liderança de D. Pedro II, apoiador da escravatura e o homem que não permitiu a livre concorrência em quase em nada, demolindo nosso primeiro empreendedor de verdade que foi Mauá. Ali, formatamos nossa cultura que precisa mudar para se ter alguma chance no mundo global. Não somos capitalistas. A China já é e fez Macau maior que Las Vegas. Sem entender os benefícios do capitalismo, quando teremos alguma chance?

(*) Ricardo Felizzola é CEO do Grupo PARIT S/A e diretor de Apostas do Jockey Club do Rio Grande do Sul e veiculou o artigo acima no Zero Hora – RS.